O DESEQUILÍBRIO QUE NOS FAZ CAMINHAR

Marcos Pontes
06/06/2007

Conforto não produz boas idéias. É preciso algum tipo de força, alguma necessidade, que nos tire da situação estagnada e nos obrigue a utilizar o potencial maravilhoso das nossas mentes criativas. Isso é ciclo natural do ser humano. Lembre-se que, para caminhar para algum lugar é preciso, antes de mais nada, desequilibrar o corpo naquela direção. Depois de iniciado o movimento, é preciso energia para manter a caminhada e também a lembrança constante de onde queremos chegar. As necessidades nos dão esse “desequilíbrio inicial” para as nossas “caminhadas da vida”.
As necessidades podem ser de dois tipos, segundo sua origem: externa e interna. As necessidades de origem externa são aquelas criadas pelo ambiente ou pela situação geral em que nos encontramos em um determinado momento da vida. Se o ambiente ou a situação nos causar desconforto, isto define uma necessidade. Rapidamente pensamos maneiras de como sair daquela situação e recuperar o nosso bem estar. Idealmente, a solução envolve ações que não só tragam de volta o conforto perdido, mas também garantam menor probabilidade daquele desconforto se repetir. Por exemplo, se alguém percebe que sua residência está prestes a ser inundada, imediatamente sente a necessidade de salvar o que tem de mais precioso. Rapidamente prepara uma tática para salvar a sua vida e levar com ele o maior número de itens estimados, se possível. Logo após essa fase “emergencial”, ele começará a pensar em uma estratégia para evitar o risco de enchente nas próximas chuvas.
Visualize a situação: após salvar o que puderam, exaustos, desolados, encharcados, parados sobre o concreto de uma garagem próxima, com a chuva lavando as lágrimas no rosto, marido e mulher assistem à água barrenta marcar uma linha horizontal cada vez mais alta nas paredes da sua casa. Ele olha para a mulher, aperta forte as suas mãos e, em tom de promessa, diz decidido: “realmente é hora de encarar aquele curso noturno de aperfeiçoamento e melhorar o meu cargo na empresa. Nós vamos comprar aquela casa que sempre sonhamos”.
Aquela necessidade o obrigou a agir, mas também fez nascer o desejo que gerará muitos sonhos, elementos essenciais para crescer e ter cada vez mais sucesso.
As necessidades de origem interna nascem da nossa criatividade. Essa característica intrínseca do ser humano que o transformou em senhor do planeta. Nossa mente nos permite criar os mais diferentes cenários e nos colocarmos dentro deles. Podemos imaginar a situação completa. Nos nossos pensamentos, podemos projetar um mundo perfeito, confortável, bonito e habitado apenas por pessoas que nos fazem sentir bem. Um lugar onde nossos defeitos não existem e podemos utilizar todas as nossas habilidades, atuais e futuras, em plenitude. Tudo perfeito! Afinal, é o nosso próprio mundo! O paraíso criado por nossa própria mente! Podemos escolher tudo de bom!
Acontece que, ao abrir os olhos, nos deparamos com outro cenário. Enxergamos o mundo real que existe ao nosso redor. Comparamos a realidade com o nosso “mundo encantado”. O resultado é algo triste e nos causa desconforto. De repente é como se a roupa ficasse muito apertada, como se algo extremamente importante estivesse errado, como se não pertencêssemos mais àquela situação. Queremos melhorar. Precisamos melhorar! Surgiu a necessidade.
O desejo virá na seqüência, como o espelho de algum aspecto do seu mundo imaginário perfeito. Surgem então, como no caso das necessidades de origem externa, os sonhos e as possibilidades de sucesso.
Assim, as necessidades, sejam elas de origem externa ou interna, são os desequilíbrios, os desconfortos de onde nascem os desejos. Se a sensação de desconforto superar o nosso medo, a nossa resistência natural às mudanças, partiremos para a ação e começaremos a projetar um futuro melhor. Permitiremos então que os desejos alimentem os nossos sonhos. Eles se transformarão em objetivos, que nos farão pensar em estratégias e procurar por oportunidades. Uma vez identificadas, junto com as oportunidades também aparecerão os desafios que, vencidos nos levarão ao sucesso. Realmente esse é um caminho muitas vezes longo e árduo. Contudo, muito diferente da falta de opções oferecidas pelo conforto e pela complacência, ele oferece paisagens maravilhosas, lágrimas e sorrisos, sendo chamado, simplesmente, de “viver”. Vale a pena!






Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).

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