Conforto não produz boas idéias. É preciso
algum tipo de força, alguma necessidade, que nos tire
da situação estagnada e nos obrigue a utilizar
o potencial maravilhoso das nossas mentes criativas. Isso
é ciclo natural do ser humano. Lembre-se que, para
caminhar para algum lugar é preciso, antes de mais
nada, desequilibrar o corpo naquela direção.
Depois de iniciado o movimento, é preciso energia para
manter a caminhada e também a lembrança constante
de onde queremos chegar. As necessidades nos dão esse
“desequilíbrio inicial” para as nossas
“caminhadas da vida”.
As necessidades podem ser de dois tipos, segundo sua origem:
externa e interna. As necessidades de origem externa são
aquelas criadas pelo ambiente ou pela situação
geral em que nos encontramos em um determinado momento da
vida. Se o ambiente ou a situação nos causar
desconforto, isto define uma necessidade. Rapidamente pensamos
maneiras de como sair daquela situação e recuperar
o nosso bem estar. Idealmente, a solução envolve
ações que não só tragam de volta
o conforto perdido, mas também garantam menor probabilidade
daquele desconforto se repetir. Por exemplo, se alguém
percebe que sua residência está prestes a ser
inundada, imediatamente sente a necessidade de salvar o que
tem de mais precioso. Rapidamente prepara uma tática
para salvar a sua vida e levar com ele o maior número
de itens estimados, se possível. Logo após essa
fase “emergencial”, ele começará
a pensar em uma estratégia para evitar o risco de enchente
nas próximas chuvas.
Visualize a situação: após salvar o que
puderam, exaustos, desolados, encharcados, parados sobre o
concreto de uma garagem próxima, com a chuva lavando
as lágrimas no rosto, marido e mulher assistem à
água barrenta marcar uma linha horizontal cada vez
mais alta nas paredes da sua casa. Ele olha para a mulher,
aperta forte as suas mãos e, em tom de promessa, diz
decidido: “realmente é hora de encarar aquele
curso noturno de aperfeiçoamento e melhorar o meu cargo
na empresa. Nós vamos comprar aquela casa que sempre
sonhamos”.
Aquela necessidade o obrigou a agir, mas também fez
nascer o desejo que gerará muitos sonhos, elementos
essenciais para crescer e ter cada vez mais sucesso.
As necessidades de origem interna nascem da nossa criatividade.
Essa característica intrínseca do ser humano
que o transformou em senhor do planeta. Nossa mente nos permite
criar os mais diferentes cenários e nos colocarmos
dentro deles. Podemos imaginar a situação completa.
Nos nossos pensamentos, podemos projetar um mundo perfeito,
confortável, bonito e habitado apenas por pessoas que
nos fazem sentir bem. Um lugar onde nossos defeitos não
existem e podemos utilizar todas as nossas habilidades, atuais
e futuras, em plenitude. Tudo perfeito! Afinal, é o
nosso próprio mundo! O paraíso criado por nossa
própria mente! Podemos escolher tudo de bom!
Acontece que, ao abrir os olhos, nos deparamos com outro cenário.
Enxergamos o mundo real que existe ao nosso redor. Comparamos
a realidade com o nosso “mundo encantado”. O resultado
é algo triste e nos causa desconforto. De repente é
como se a roupa ficasse muito apertada, como se algo extremamente
importante estivesse errado, como se não pertencêssemos
mais àquela situação. Queremos melhorar.
Precisamos melhorar! Surgiu a necessidade.
O desejo virá na seqüência, como o espelho
de algum aspecto do seu mundo imaginário perfeito.
Surgem então, como no caso das necessidades de origem
externa, os sonhos e as possibilidades de sucesso.
Assim, as necessidades, sejam elas de origem externa ou interna,
são os desequilíbrios, os desconfortos de onde
nascem os desejos. Se a sensação de desconforto
superar o nosso medo, a nossa resistência natural às
mudanças, partiremos para a ação e começaremos
a projetar um futuro melhor. Permitiremos então que
os desejos alimentem os nossos sonhos. Eles se transformarão
em objetivos, que nos farão pensar em estratégias
e procurar por oportunidades. Uma vez identificadas, junto
com as oportunidades também aparecerão os desafios
que, vencidos nos levarão ao sucesso. Realmente esse
é um caminho muitas vezes longo e árduo. Contudo,
muito diferente da falta de opções oferecidas
pelo conforto e pela complacência, ele oferece paisagens
maravilhosas, lágrimas e sorrisos, sendo chamado, simplesmente,
de “viver”. Vale a pena!
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |