O MOMENTO EXATO

Marcos Pontes
20/06/2007

Imóvel! Quieto! Atento a cada movimento da presa. Energia “comprimida”. Pronta para explodir no momento exato e conquistar o objetivo. Nada mais importa ao seu redor. Naquele momento, nada é mais importante do que, simplesmente, aguardar.
Você já observou os grandes felinos enquanto caçam? Um perfeito exemplo de concentração e paciência.
Contrário à opinião daqueles que geralmente desconhecem o cenário geral, a paciência não é sinônimo de complacência, fraqueza ou alienação. Ela é uma característica essencial dos líderes, que têm que conhecer os recursos disponíveis e escolher o momento certo para utilizá-los. Também é uma virtude dos fortes, que não se deixam influenciar por nada que os desvie dos seus ideais.
Para o nosso contexto, nesse instante, é importante perceber que ela é também uma habilidade que pode ser desenvolvida e treinada, servindo como uma ferramenta essencial durante a execução dos nossos planos para a realização dos nossos sonhos.
Na prática, a paciência pode ser considerada como a capacidade de suportar uma situação progressivamente desconfortável por um determinado período de tempo.
Quando analisamos o ataque de um leão, por exemplo, podemos observar algumas das suas principais características. Sabemos qual é o seu objetivo. Também sabemos que a caça consegue correr em velocidade por maior período de tempo. Isto é, sabemos algumas restrições no seu planejamento. Portanto, podemos deduzir aspectos do seu plano de ataque: aguardar o momento exato, ficando contra o vento e imóvel para não ser detectado. Quando a presa entrar no raio de alcance do seu fôlego e estiver distraída o suficiente, ele irá liberar a sua energia de uma só vez. A espera pode durar um longo tempo!
Para o felino, a caçada é um exercício de paciência, mas também a garantia de sua sobrevivência.
Notamos, então, algumas das principais condições para utilizarmos a habilidade da paciência:
-Ter o objetivo e o planejamento claramente definidos
-Saber exatamente a importância do objetivo
-Manter o objetivo, as restrições do planejamento e as condições ideais de execução sempre focados na nossa mente, ocupando “todo o espaço”.
A “falta de paciência” ou a ansiedade surgem quando a mente começa a divagar, em resultados ruins ou alternativas mais confortáveis para a situação do momento. Se não estivermos plenamente convencidos da importância dos objetivos que nos levaram aquela situação, procuraremos todas as justificativas para abandonarmos aquele desconforto. Portanto, a paciência exige foco constante no objetivo principal e na execução do planejamento, sem pensar em alterá-lo antes de completar um número mínimo de ciclos válidos de tentativas. Confie nos seus planos!
Observe que nem sempre usamos a paciência em situações de espera antes de uma explosiva. Muitas vezes, esperar ou realizar procedimentos repetitivos são o ponto de interesse aos nossos objetivos. Lembre-se que as razões para fazermos alguma coisa “de grande teor de paciência”, podem ser ligadas à compaixão, amor, etc, ou, talvez, porque acreditamos que, naquele momento, aquilo é a coisa mais lógica a fazer para termos sucesso. Na Missão Centenário, ficamos cerca de cinco horas amarrados firmemente aos nossos assentos e comprimidos, três cosmonautas, dentro da pequena espaçonave Soyuz desde a preparação da decolagem até chegar à segunda órbita no espaço. O volume disponível é semelhante ao assento traseiro de um fusca e os trajes são bem grandes. A posição é bastante desconfortável e, depois de uma hora, não podemos sentir os pés. A dor nas costas vai gradualmente assumindo dimensões enormes. Contudo, somos treinados a manter a calma, superar o medo e ter “toda a paciência do mundo”. Como fazemos isso? Porque nosso objetivo maior de chegar ao espaço está constantemente em nossas mentes!
Assim, seja esperando o momento exato para agir, ou executando uma tarefa monótona, lembre-se que uma das chaves para exercer a paciência com eficiência é manter seus objetivos constantemente focados em sua mente. Mantenha a paixão sempre acesa dentro de você!







Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).

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