Imóvel! Quieto! Atento a cada movimento da presa. Energia
“comprimida”. Pronta para explodir no momento
exato e conquistar o objetivo. Nada mais importa ao seu redor.
Naquele momento, nada é mais importante do que, simplesmente,
aguardar.
Você já observou os grandes felinos enquanto
caçam? Um perfeito exemplo de concentração
e paciência.
Contrário à opinião daqueles que geralmente
desconhecem o cenário geral, a paciência não
é sinônimo de complacência, fraqueza ou
alienação. Ela é uma característica
essencial dos líderes, que têm que conhecer os
recursos disponíveis e escolher o momento certo para
utilizá-los. Também é uma virtude dos
fortes, que não se deixam influenciar por nada que
os desvie dos seus ideais.
Para o nosso contexto, nesse instante, é importante
perceber que ela é também uma habilidade que
pode ser desenvolvida e treinada, servindo como uma ferramenta
essencial durante a execução dos nossos planos
para a realização dos nossos sonhos.
Na prática, a paciência pode ser considerada
como a capacidade de suportar uma situação progressivamente
desconfortável por um determinado período de
tempo.
Quando analisamos o ataque de um leão, por exemplo,
podemos observar algumas das suas principais características.
Sabemos qual é o seu objetivo. Também sabemos
que a caça consegue correr em velocidade por maior
período de tempo. Isto é, sabemos algumas restrições
no seu planejamento. Portanto, podemos deduzir aspectos do
seu plano de ataque: aguardar o momento exato, ficando contra
o vento e imóvel para não ser detectado. Quando
a presa entrar no raio de alcance do seu fôlego e estiver
distraída o suficiente, ele irá liberar a sua
energia de uma só vez. A espera pode durar um longo
tempo!
Para o felino, a caçada é um exercício
de paciência, mas também a garantia de sua sobrevivência.
Notamos, então, algumas das principais condições
para utilizarmos a habilidade da paciência:
-Ter o objetivo e o planejamento claramente definidos
-Saber exatamente a importância do objetivo
-Manter o objetivo, as restrições do planejamento
e as condições ideais de execução
sempre focados na nossa mente, ocupando “todo o espaço”.
A “falta de paciência” ou a ansiedade surgem
quando a mente começa a divagar, em resultados ruins
ou alternativas mais confortáveis para a situação
do momento. Se não estivermos plenamente convencidos
da importância dos objetivos que nos levaram aquela
situação, procuraremos todas as justificativas
para abandonarmos aquele desconforto. Portanto, a paciência
exige foco constante no objetivo principal e na execução
do planejamento, sem pensar em alterá-lo antes de completar
um número mínimo de ciclos válidos de
tentativas. Confie nos seus planos!
Observe que nem sempre usamos a paciência em situações
de espera antes de uma explosiva. Muitas vezes, esperar ou
realizar procedimentos repetitivos são o ponto de interesse
aos nossos objetivos. Lembre-se que as razões para
fazermos alguma coisa “de grande teor de paciência”,
podem ser ligadas à compaixão, amor, etc, ou,
talvez, porque acreditamos que, naquele momento, aquilo é
a coisa mais lógica a fazer para termos sucesso. Na
Missão Centenário, ficamos cerca de cinco horas
amarrados firmemente aos nossos assentos e comprimidos, três
cosmonautas, dentro da pequena espaçonave Soyuz desde
a preparação da decolagem até chegar
à segunda órbita no espaço. O volume
disponível é semelhante ao assento traseiro
de um fusca e os trajes são bem grandes. A posição
é bastante desconfortável e, depois de uma hora,
não podemos sentir os pés. A dor nas costas
vai gradualmente assumindo dimensões enormes. Contudo,
somos treinados a manter a calma, superar o medo e ter “toda
a paciência do mundo”. Como fazemos isso? Porque
nosso objetivo maior de chegar ao espaço está
constantemente em nossas mentes!
Assim, seja esperando o momento exato para agir, ou executando
uma tarefa monótona, lembre-se que uma das chaves para
exercer a paciência com eficiência é manter
seus objetivos constantemente focados em sua mente. Mantenha
a paixão sempre acesa dentro de você!
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |