Todos nós precisamos de alguém algum dia. Por
mais independente, dura, egoísta ou anti-social que
a pessoa tenha se tornado na idade adulta, seja lá
por qual razão, certamente esse mesmo adulto, hoje
infeliz, já foi feliz um dia, quando criança.
Já sentiu o amor de alguém. Já sentiu
o carinho e a compaixão de outro ser humano, provavelmente
a mãe ou o pai, que, por horas a fio, no meio da noite,
carregou no colo, embalou e consolou o choro da criança
assustada que adormeceu na calma do abraço seguro.
Muitas vezes não nos damos conta da importância
de uma palavra de consolo, uma lembrança, um telefonema,
uma palavra de motivação. Já notou que
algumas vezes acordamos pensando em uma pessoa, alguém
que não vemos há muito tempo. Passamos o dia
lembrando desse amigo, com vontade de ligar para matar a saudade,
colocar o assunto em dia, ou simplesmente perguntar: “tudo
bem contigo?” É como se “alguém”
estivesse nos dizendo alguma coisa. Porém, muitas vezes
os afazeres da nossa rotina, ou o medo de ser interpretado
como “esotérico”, nos impede de fazer aquela
ligação.
Por outro lado, você já pensou que realmente
aquela pessoa poderia estar precisando de sua ajuda, de uma
palavra amiga, precisando “exatamente” de você
como única e última esperança em um momento
difícil da vida...e você não estava lá,
não ligou?
Não tenha medo de parecer “esotérico”,
“ultra-sensível”, ou qualquer coisa assim.
Com certeza, isso não vai prejudicar a sua vida. Mas
a sua omissão pode ser questão de vida e morte
para alguém. Assim, ouça aos seus instintos,
siga seu coração, tenha compaixão!
Muita gente confunde compaixão com pena. Contudo, essas
são coisas muito diferentes.
Pena é um sentimento sem ação, normalmente
acompanhado de um sentimento de superioridade. Uma sensação
de tristeza que surge ao testemunharmos o sofrimento de outras
pessoas. Porém, não permitimos ligação,
não tomamos qualquer providência sobre as causas
daquele sofrimento. Não ajudamos, não oferecemos
ajuda, nem sequer uma prece. Simplesmente viramos as costas
com um gosto amargo na boca, com um certo alívio pela
nossa “superioridade”, ou com medo de que aquilo
poderia um dia acontecer conosco. Procuramos esquecer o assunto
e voltamos ao que estávamos fazendo no nosso dia-a-dia.
Compaixão é compartilhar a dor e fazer alguma
coisa. Testemunhar o sofrimento de outra pessoa e colocar-se
ao seu lado, oferecer ajuda, uma palavra, uma prece, um abraço.
Estar junto, como ser humano.
Lembro de uma história que ouvi sobre dois recém
nascidos, um casal de gêmeos. Após o nascimento
prematuro, um dos bebês estava forte e saudável.
O outro, a menina, estava fraca e correndo sério risco
de não sobreviver a mais um dia. Seus sinais de vida
na incubadora da UTI estavam cada vez mais pálidos
e irregulares. Assistindo a sua luta pela vida se esvair e
sem ter mais o que fazer, uma enfermeira seguiu o seu coração
e resolveu colocar os dois bebês na mesma incubadora.
Depois de algum tempo juntos, coincidência ou não,
o movimento do bebê saudável resultou em um abraço
carinhoso em sua irmã, já quase sem vida. E
assim ficaram os dois, abraçados por longas horas.
De modo quase mágico, e maravilhoso, os sinais vitais
da menina começaram a melhorar. Ela começou
a responder ao tratamento e recuperou as forças. Hoje
os dois são crianças saudáveis, brincando
e sonhando com um futuro cheio de felicidade. Os jornais da
época estamparam na primeira página a foto “do
abraço que salva”, “do abraço da
vida”, “do abraço da compaixão”.
Portanto, que nós também tenhamos compaixão.
Que possamos lembrar, e nunca esquecer, daquele sentimento
bom que já nasceu dentro de nós e que a frieza
da vida adulta muitas vezes transforma em “pena”.
Lembre-se que todos nós temos problemas. Muitas vezes
colocamos o foco e damos tanta importância ao nosso
problema que, ao dedicarmos nossa atenção total
a ele, o transformamos em um gigante de sete cabeças
cuspindo fogo pelas ventas. Nesse momento, em especial, é
importante confiarmos em uma força muito maior que
qualquer problema e que irá vencer nossas batalhas
por nós. É importante dedicarmos algum tempo
para compartilhar e ajudar nos problemas de outras pessoas.
Assim, você verá seus problemas por uma perspectiva
diferente. Perceberá seu tamanho real.
Tenha certeza que todos os sentimentos ruins associados ao
seu problema irão se transformar, através da
compaixão, em um sentimento de próposito e felicidade.
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |