Faça justiça usando a sua consciência

Marcos Pontes
27/11/2007

Todos nós somos seres humanos. Temos qualidades e fraquezas. Entre elas, ou talvez no controle delas, temos que conviver, a todo instante, com o nosso "ego".
Embora esse termo tenha uma interpretação popular como algum tipo de mistura de "orgulho pessoal" com "arrogância", "necessidade de auto-afirmação", "estrelismo", "egoísmo", etc, na verdade, segundo "Freud", o ego é um pouco diferente. Associa-se diretamente ao constante "processo decisório" entre o nosso "Id" e o nosso "super-ego". O Id, como representante dos nossos desejos, necessidades ou impulsos, não se importa nem com "como realizar" o desejo, nem com as consequências para o mundo ou outras pessoas. O "super-ego", como representante das nossas restrições morais, ou "consciência", importa-se apenas como nossas ações podem refletir na sociedade, ajudando ou prejudicando outras pessoas. Note que o o conceito popular de "ego" tem maior similaridade com o "Id".

Em todo caso, para facilitar, usaremos o conceito popular mesmo.
Nesse contexto, o que importa é que, "satisfazer o ego", por ser um tipo de "necessidade natural", é algo difícil de controlar, como fome, sede, etc. Exige esforço consciente.

A satisfação do ego muitas vezes envolve coisas inócuas, como pedir elogios, "exibir" o carro novo, etc.
Mas nem tudo é assim. Algumas vezes, nossa busca por "satisfazer o ego" (e o orgulho próprio), pode causar prejuízos a outras pessoas, inocentes. Alguém que, em uma determinada situação, pode ter se encontrado à mercê das nossas atitudes e decisões.

Como podemos evitar essa injustiça?

Primeiro, observe que "o ego bate forte" quando somos ameaçados ou desafiados. Isso ocorre seja por razão de uma pessoa, ou simplesmente por uma situação ocasional. São aquelas coisas que "mexem com o brio" da gente.
Em todo caso, o conflito real aparece no "ponto de decisao" que essas circunstâncias, inevitavelmente, nos conduzem. Aquele momento crítico! E agora? Temos que decidir o que fazer! Dúvida: atendo ao meu "ego" e tomo uma atitude teimosa, ou negativa; ou atendo a minha consciência?

Qual é a reação normal nessa hora?

Inicialmente, de forma inconsciente, "ligamos" as necessidades do nosso "ego" à lógica: "estou agindo conforme a situação me obrigou. Essa solução é lógica!"
Depois ligamos nossa consciência ao nosso "coração". Aí ficamos entre duas opções: a "lógica que inventamos para o ego" ou o nosso "coração".

Agora, pare um pouco e pense: note que você criou essas duas alternativas através de um ponto de vista "míope", olhando muito de perto uma situação, no "afã da batalha". Na verdade, a lógica não é igual ao seu ego. A lógica se liga aos fatos reais e também deve levar em conta o que diz a sua consciencia.

Respire! Dê um tempo para raciocinar. Veja a situação de fora. O cenário completo. Faça um esforço! Veja todos os personagens e os fatos, sem você!

Julgar é sempre muito difícil. Principalmente se somos pressionados por algum fator a irmos contra ao que a nossa consciência do bem nos diz. Esse fator pode ser o seu ego ou a influência negativa de outras pessoas sobre você, como um superior com "agenda oculta".
Não deixe que eles comandem suas ações. A sua consciência cobrará isso de você no futuro, no momento em que você procurar por alguma "dignidade" dentro de você. E tenha certeza que isso sempre será necessário!

Portanto, esse "confronto de consciência" pode surgir por pressão de uma situação sobre o seu ego ou por influência de uma pessoa sobre você.

Um caso de pressão de situação acontece quando existe, por exemplo, um procedimento de um trabalho que você acreditava ser certo, mas que depois de duas ou três tentativas, demonstrou que não funciona ou não é necessário, mas o seu "ego", na forma de orgulho ou teimosia, insiste em que você precisa fazê-lo, mais e mais. "O que os outros vão pensar de mim?", você teme.

Espere! Pense! Para que você está fazendo isso? O objetivo é concluir o trabalho com sucesso. Será que é realmente necessário? Será que já não existem dados suficientes para cumprir os objetivos? Que quantidade de gastos ou que tipo de dano estou causando para outras pessoas ou para a própria credibilidade da minha instituição para simplesmente satisfazer ao seu ego? Assim, se o procedimento é incorreto ou desnecessário, esqueça esse procedimento! Não deixe o "que os outros podem pensar" interferir na sua decisão.

Um caso de influência de outra pessoa ocorre, por exemplo, quando um superior determina que você faça algo que você sabe que é incorreto, desnecessário, ou que vai contra ao que sua consciência diz. Usando o mesmo exemplo acima, você pode insistir no procedimento de trabalho simplesmente para satisfazer aos desejos de seu chefe. Isso satisfaz ao "ego" dele, mas às custas de quanto prejuízo para outras pessoas ou a sua própria instituições?

De qualquer forma, o resultado final desses confrontos, se não forem resolvidos corretamente, são: erros, ações impensadas, insistência em procedimentos incorretos ou desnecessários, perda de credibilidade de profissionais e instituições, gastos inúteis, pessoas injustamente prejudicadas, remorso, peso na consciência, etc.

O resultado seria muito diferente se o "ego" ou a influência negativa de outras pessoas não fossem ouvidos, mas apenas a lógica fos fatos e a sua consciência.

Para tanto, primeiro "olhe o problema de fora", veja o cenário geral, identifique e dê peso às partes. Qual a importância real desse assunto? Vale a pena dedicar ou gastar tantos recursos nisso, em prejuízo de outras atividades talvez muito mais importantes?

Depois, é preciso buscar por humildade. Agir com grandeza, como ser humano. Perceber o erro, parar com o procedimento incorreto ou desenecessário, concluir o assunto e seguir com outras atividades.

Finalmente, em resumo, às vezes ficamos tão cegos pelo nosso ego ou pela influência de outra pessoa, que concentramos toda a nossa atenção em apenas tentar comprovar a nossa teoria inicial sobre um procedimento, ou uma pessoa. Não "levantamos a cabeça" para ver o cenário geral e pensar se aquilo realmente era correto ou necessário.

Portanto, "parar e ver o cenário" é muito importante. Dessa forma podemos ver com clareza o que temos em mãos, as consequências dos nossos atos, e o caminho correto para concluir o assunto e resolver o problema de forma simples e eficiente, evitando prejuízos para instituições e pessoas.

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