Esta
semana terminei um curso bastante interessante. Entre os muitos
pontos altos do seu conteúdo, um pequeno tópico
me chamou a atenção e gostaria de compartilhar
com os leitores: a questão dos rótulos e padrões
que usamos para “facilitar” o nosso raciocício
e nossas decisões.
Raciocinar é um processo que inclui inúmeras
comparações do “analisado” (situação,
objeto, comportamento, etc) com padrões mentais que
desenvolvemos ao longo da nossa experiência de vida.
Nossa ação perante a um determinado evento irá
refletir a nossa conclusão sobre ele. Esta conclusão,
por sua vez, foi baseada nas suposições que
construímos a partir dos dados que selecionamos (tivemos
acesso ou escolhemos), entre todas as informações
e fatos disponíveis sobre aquele assunto. Essa é
a idéia da “escada da inferência”
criada por Chris Argyris, da universidade de Harvard.
A soma dessas duas observações, raciocínio
por comparação e conclusão oriunda em
dados selecionados, tem consequências bastante interessantes
sobre o nosso comportamento, de modo geral, em todas as áreas
de nossa vida. Basta lembrar dos detalhes de eventos passados
e refletir um pouco sobre as possibilidades de resultado e
interações (positivas e negativas) dessa estrutura
e desse processo de raciocínio, para começarmos
a entender muitas das coisas que deram certo e que falharam
na nossa história profissional e pessoal.
Acrescente a isso o seguinte fato facilmente observável:
em longo tempo de operação, sempre tendemos
a optar pelos procedimentos que resultem em menor uso de energia
e de tempo. Isso explica porque desenvolvemos “padrões”
em nossa cabeça que nos permitam “rotular”
determinados eventos, situações, pessoas, etc:
é uma maneira prática, rápida e de menor
energia. Isto é, “não temos que pensar”
novamente no significado, procedimento, etc, toda vez que
nos deparamos com “eventos semelhantes” (segundo
as nossas conclusões antigas...aí é onde
mora o perigo!).
Veja bem, em resumo, o processo acontece da seguinte forma:
1. Nos deparamos com um evento e seus protagonistas.
2. Observamos “alguns” dados sobre esse evento
e seus protagonistas. Note que, na maioria das vezes, não
temos “tempo”, desejo, interesse, ou condições,
para buscar todos os fatos disponíveis. Assim temos
um evento, uma ou mais pessoas, e um conjunto parcial selecionado
de dados sobre eles.
3. Procuramos na nossa “prateleira de padrões”
disponíveis em nossa mente alguma coisa que seja semelhante
ao que temos em mãos naquele exato instante para “analisar”.
Achar um padrão com o qual possamos rotular o nosso
evento e os seus protagonistas economizaria muito tempo e
energia! Não precisamos ficar raciocinando tudo de
novo sobre isso! Basta rotular (isso é um .... e fulano
é um .....) e agir conforme o procedimento “padronizado”
(que usamos, ou outros usaram, de outras vezes).
4. Achamos algo semelhante, uma “caixinha parecida”,
mas não exata, para “encaixar” tal evento
e tais pessoas. Só não é “exatamente”
igual porque alguns dos dados selecionados que temos em mãos
são um pouco diferentes do que os esperados para aquele
“padrão”. O que fazer? Simples, descartamos
esses dados “discordantes”, retornamos para os
dados disponíveis e procuramos, incansavelmente, por
alguma coisa, alguns dados que “nos ajudem a confirmar”
o que “pensamos desse evento e dessas pessoas”.
Afinal, agora já decidimos encaixá-los naquele
padrão, isto é, já os “rotulamos”
com nomes “tal e tal”, por exemplo, essa situação
é um “absurdo” (rótulo) e essas
pessoas são todas idiotas (rótulo)!
5. Depois disso, podemos parar por aí, satisfeitos
da vida com as nossas conclusões “sábias”,
ou pior ainda, podemos prosseguir para tentar convencer outras
pessoas para que também usem os mesmos “rótulos”
que demos para aquele evento e seus protagonistas, mostrando
nossos dados selecionados (especialmente escolhidos para demonstrar
a nossa “tese”) e esperando que aceitem e nos
apóiem. A pura glória!
Notou alguma semelhança com algum momento de sua vida?
A coisa é ruim quando diz respeito a rótulos
que colocamos em outras pessoas. Porém fica mais séria
e devastadora ainda quando se trata de “exigências”
que temos do mundo e “rótulos” que colocamos
em nós mesmos (e depois ainda agimos contra nós
mesmos tentando inconscientemente “comprovar a nossa
tese contra nós mesmos!”).
Por exemplo: “Tudo que eu faço dá errado!
Eu tenho que acertar e vencer na vida, senão eu sou
um fracassado, incompetente, burro!”
Coisas desse tipo são extremamante prejudiciais ao
seu desenvolvimento pessoal. Não deixe esses pensamentos
ganharem dimensão por esse ciclo descendente em sua
mente. Lembre-se que você vai agir tentando comprovar
a sua “tese”.
Primeiro, destrua os rótulos e as suas exigências.
Para tanto, note que tanto as exigências quanto os rótulos
são baseados em dados selecionados (viciados), que
escolhemos para tentar “provar” a nossa tese.
Não representam a realidade da totalidade dos fatos
disponíveis. No exemplo acima, certamente você
já teve experiências bem sucedidas na vida. Mais
do que isso, exigir “acertar”, por si só,
não garante que você vai acertar. São
necessárias ações positivas! Quanto ao
rótulo, você é muito mais do que um evento.
Falhar em um procedimento só diz que “aquele”
procedimento era errado! Não que “você”
é errado ou burro. Com certeza existem coisas na sua
vida que demonstram claramente sua competência! Não
generalize as falhas!
Destruídas as exigências e os rótulos,
use agora a mesma estrutura de raciocínio para motivar
a você mesmo a todo instante! Isto é, ao invés
de procurar dados para te fazer sentir mal, para baixo, procure
dados e fatos que demonstrem que você é bom no
que faz, que você é competente, feliz! Dê
a você mesmo os rótulos bons: eu sou feliz! Eu
sou inteligente! Eu sou muito bom nisso, ou naquilo! Generalize
os sucessos! |