É claramente notável a aversão de muitos estudantes pelas matérias relacionadas à ciência, como física, química, etc. A infra-estrutura das escolas, o material disponível, a estrutura da proposta curricular, a existência de um vestibular e a formação dos professores estão entre os vários fatores contribuintes para tal fato.
Se por um lado a indisposição pelo assunto científico é preocupante para os objetivos de desempenho escolar em cada disciplina específica, o problema torna-se ainda maior quando percebemos que a observação e o interesse pela ciência têm papel importante na formação da estrutura básica do raciocínio lógico e até mesmo da capacidade de aprendizado dos jovens.
Observe que, desde a tenra idade, aprendemos primariamente por associação de novas situações com eventos e elementos já conhecidos. Portanto, podemos dizer que o aprendizado é um processo construtivo que se ramifica e intensifica a partir de conhecimentos adquiridos previamente e que funcionam como troncos e galhos desse sistema em desenvolvimento.
Contudo, é importante notar que os primeiros conhecimentos adquiridos, as raízes dessa estrutura, são naturalmente baseados na interação da criança com o ambiente que a cerca. Começando com a busca da satisfação das necessidades básicas de sobrevivência, instintivamente relacionada às condições fisiológicas e aos medos de cair e de ficar sozinha, gradualmente a criança reconhece e desenvolve padrões de resposta à presença da mãe ou de um outro ser adulto que possa prover proteção, alimentação e cuidados essenciais.
A partir das informações sensoriais, o reconhecimento dos elementos presentes e a interpretação do ambiente ao nosso redor são componentes básicos e naturais do processo de aprendizagem desde o seu início. Possíveis comparações, possibilidades de uso e impactos no contexto da situação experimentada são desdobramentos avançados da interpretação que resultam da imaginação, sempre baseada em conhecimento prévio e intensamente influenciada pela emoção disparada pelo desafio e pela percepção de importância do assunto (propósito).
Essa pequena análise primária do processo cognitivo já nos dá fortes indicações da importância do ambiente e da "vivência" para impulsionar o aprendizado de forma eficiente e natural.
Portanto, o estilo de aula baseado unicamente na apresentação do conteúdo no quadro, com o professor "puxando" o assunto simplesmente pela necessidade da proposta curricular, além de não ser eficiente no sentido de desempenho de aprendizado, não traz qualquer motivação natural para o assunto. É preciso trazer o assunto à vida, associá-lo às experiências vividas e promover desafio e percepção de propósito. Assim, novas ferramentas, mais dinâmicas, com suas devidas metodologias, têm de ser utilizadas em nossas escolas.
Nesse sentido, a parte introdutória das aulas têm de "sair da sala" para promover o desafio, a curiosidade e as dúvidas através da vivência da ciência no ambiente externo, natural para o início do processo de aprendizado.
Por exemplo, a participação dos estudantes em atividades científicas em um acampamento (como nos chamados "Science Camps com o Astronauta Marcos Pontes") é uma atividade ideal para esse objetivo. Cada "Science Camp" é projetado para trazer atividades divertidas, focadas em uma área da ciência, como aviação, astronáutica, astronomia, robótica, etc., relacionando vivência com situações e problemas multidisciplinares encontrados na vida real e incentivando os estudantes a desenvolver e utilizar o raciocínio lógico para "descobrir" soluções.
Além disso, a interação dentro dos grupos promove o desenvolvimento de competências intrapessoais e interpessoais importantíssimas para a vida dos jovens, sempre enfatizando aspectos de trabalho em equipe, liderança, empreendedorismo e resiliência emocional.
Tais atividades trazem todos os elementos emocionais positivos ligados ao desafio e à percepção de propósito para disparar o processo de aprendizado, que deve ser continuado na escola com aulas e laboratórios. Basicamente, é como utilizar a sequência natural de descoberta científica como pivô de motivação ao aprendizado de todas as disciplinas em nossas escolas!
Astronauta Marcos Pontes
Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes atualmente é Astronauta Profissional Especialista de Missão, formado pela NASA e pela Roscosmos, à disposição do Brasil, aguardando a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial. É Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Desempenho Pessoal e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do Ensino Profissionalizante, Embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de três livros: “Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira”, “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade” e “O Menino do Espaço. A história do Primeiro Astronauta Brasileiro”, todos publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.
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