"Estes são os meus princípios!".
Muita gente confunde o significado dos termos princípios e valores. Se não fosse pelo fato do alinhamento dos seus valores com os princípios naturais ser algo essencial para o seu sucesso, com certeza essa confusão semântica não teria influência nenhuma na sua vida. Assim, precisamos investir algum tempo no entendimento desses dois conceitos até que você escolha corretamente os seus valores. Depois, não se preocupe com o nome a ser usado.
Consideremos inicialmente os princípios, ou leis, universais. Eles governam todos os processos, tudo o que acontece na nossa vida e todos os resultados que vão ser gerados a partir das condições iniciais encontradas e do nosso comportamento. Nós não temos nenhuma influência sobre os princípios. Pelo contrário, eles é que têm completa influência sobre nós. São soberanos absolutos que agem independentemente da nossa vontade ou escolha. São leis naturais, imutáveis, que são válidas em todas as situações e funcionam a todo instante.
As leis da física são a nossa interpretação de alguns princípios, mas podem ser usadas como exemplos simples desse conceito. Uma delas é a gravidade. Ela opera sobre nós 24 horas por dia, sete dias por semana. Não temos escolha, ela é soberana e atua com ou sem o nosso consentimento. Nada podemos fazer. Todos estamos sujeitos a ela.
Quando estudamos as leis da física, é fácil visualizar a sua existência, pois vários efeitos são concretos e palpáveis. Entretanto, para falar de princípios aplicados ao comportamento, temos que recorrer à nossa experiência de vida para confirmar a sua existência.
Veja, por exemplo, o que chamamos de "lei da colheita". Ela nos diz que primeiro é preciso "plantar" para depois "colher" os resultados. Não há como mudar essa ordem, ou "enganar" a natureza. No mundo físico, o significado é óbvio. Os agricultores convivem com isso diariamente. Contudo, durante a nossa vida, muitas vezes nos esquecemos ou tentamos "burlar" esse princípio básico quando aplicado ao comportamento. Isso acontece quando esperamos ter sucesso sem primeiro definir um objetivo e trabalhar para alcançá-lo.
A chamada "lei da causa e consequência" também é um princípio natural. Muitas vezes escolhemos agir de forma inadequada e não pensamos nas consequências correspondentes. Pior ainda, algumas vezes, em especial sob estresse, repetimos o mesmo comportamento e esperamos obter resultados diferentes. Isto é, achamos que "as coisas irão mudar" sem que alteremos o nosso modo de agir. Esse comportamento lhe parece familiar?
A "lei da correspondência" diz que o mundo ao seu redor será o reflexo do que existe dentro de você. Isto tem muitas implicações práticas na nossa vida. Este princípio está na base da conhecida "lei da atração" e da antiga "regra de ouro" da convivência em sociedade: trate todas as pessoas exatamente como gostaria de ser tratado.
Deu para entender o que são princípios e como não podemos controlar ou "escolher" os princípios que irão nos afetar. Eles simplesmente governam tudo o que existe.
Consideremos agora os valores.
.Durante nossa vida, acumulamos experiências emocionais únicas que definem a nossa escolha por uma série de virtudes, qualidades, atitudes, características e padrões de comportamentos aos quais atribuímos grande importância. Esses são os nossos valores.
Eles são escolhidos por nós e, portanto, é possível que cada ser humano tenha um conjunto diferente de valores. Normalmente, cada pessoa utiliza, em média, cinco valores principais em cada fase da vida. Eles são importantes para a interpretação de eventos e situações, servindo como referência de comportamento. O código de honra dos cadetes da AFA é composto por um conjunto de cinco valores que devem nortear a conduta profissional de todos dos militares em formação naquela instituição: "Coragem, Lealdade, Honra, Dever e Pátria".
Outros exemplos de valores são: honestidade, beleza, integridade, inteligência e compaixão.
Use a sua experiência de vida e observe como a escolha de valores influencia a atitude e o comportamento de uma pessoa. Para aquela que elege a "coragem" como um valor, é muito importante a sensação de encarar os desafios e vencer os efeitos do medo em qualquer situação. Sentir-se covarde é algo terrível emocionalmente e pode comprometer sua autoimagem. Portanto, ela sempre tentará agir conforme o seu modelo mental de comportamento corajoso.
Se essa pessoa também escolhe a beleza como um de seus valores, ela certamente dedicará grande parte do seu tempo a exercícios físicos, tratamentos de pele, cabelos, procedimentos estéticos, cirurgias plásticas, etc.
Em resumo, os valores que você escolhe indicam suas prioridades na vida.
Agora um ponto extremamente importante: independentemente da sua escolha de valores, o ponto crucial é alinhá-los com os princípios universais.
Se houver desalinhamento entre eles, você terá gastos desnecessários de energia e apresentará baixa performance pessoal. Isso é ilógico, improdutivo, ineficiente e frustrante.
Além do alinhamento com os princípios, evite escolher valores que resultem em comportamentos conflitantes e ordene-os por nível de importância. Sem esses cuidados, você corre o risco de, em determinadas situações, tentar satisfazer dois requisitos incompatíveis, o que resultaria em um comportamento incoerente e ineficiente, caracterizado por sérias dúvidas de foco e prioridade.
Para entender o efeito desses problemas, vamos ver alguns exemplos.
O primeiro caso trata da importância do alinhamento de valores com os princípios universais de comportamento.
Imagine que uma pessoa chamada João escolheu a "lealdade" como um de seus valores. João é superleal ao seu parceiro. Prefere morrer a abandoná-lo em dificuldade. Lealdade é um valor nobre, não é? Contudo, nada funciona na vida de João. Ele vive isolado, com poucos recursos, sente-se mal e revoltado. Todos o tratam de forma distante, com medo e desconfiança. Ninguém o ajuda em seus objetivos. Por quê? Note como os valores têm um significado bastante relativo. João é, por certo, muito leal. Porém, a sua lealdade é dedicada ao maior traficante da cidade; João é o responsável pela cobrança de dívidas e pela eliminação de "resistências".
Ele certamente escolheu um ótimo valor, mas não o alinhou com dois princípios: primeiro - "só as pessoas boas podem ser felizes"; segundo - "trate as pessoas exatamente como você espera ser tratado".
Não é à toa que, embora se guie por um valor nobre, ele é infeliz e todos o desprezam.
No que se refere a conflitos entre valores, o assunto é nebuloso. Alguns dizem que felicidade e conhecimento são conflitantes. Outros, com diferentes pontos de vista, dizem que são complementares. A questão pode se aprofundar em definições filosóficas e interpretações pessoais de cada valor. Na minha opinião, não existem conflitos entre valores, apenas conflitos entre comportamentos.
Em todo caso, não vamos nos aventurar pelo campo da filosofia. Na prática, o que importa é sabermos que dois valores diferentes podem induzir dois comportamentos distintos que, em certa situação, podem ser conflitantes.
O fato é que "não podemos servir ao senhor da guerra e ao senhor da paz ao mesmo tempo". Nosso comportamento deve ser determinado e consistente. Se a sua interpretação de dois valores indica possíveis conflitos de comportamento, mude o seu conjunto de valores ou ordene-os por prioridade, nunca esquecendo de que todos devem ser alinhados com os princípios universais.
Vejamos um segundo exemplo.
Imaginemos uma dona de casa, vamos chamá-la de Sílvia. Ela escolheu como valores a honestidade e a lealdade à família. Sílvia nunca pensou em priorizar seus valores, pois acredita que todos têm exatamente a mesma importância. Casada com Carlos há dez anos, eles têm dois filhos, um dos quais sofre de uma grave doença que necessita de medicamentos diários muito caros. Eles formam uma família muito unida. Ela ama seu marido e seus filhos. Nessa situação hipotética, um dia, ela descobre que Carlos é o responsável direto por um grande desfalque na empresa em que ele trabalha. Centenas de funcionários serão demitidos. Ela questiona o seu comportamento. Ele diz que roubou o dinheiro para pagar os medicamentos do filho. Ninguém irá saber. Ela fica confusa. O que fazer? Agir pela honestidade e denunciar seu marido à polícia, ou agir pela lealdade à família e ser cúmplice no crime?
Essas são as chamadas "sinucas de bico". Escolhas difíceis que temos que fazer na vida. Os comportamentos induzidos pela honestidade e pela lealdade à família sempre foram completamente compatíveis. Nessa situação específica não eram. Surge um enorme conflito interno. A decisão não é simples. Existem muitas variáveis a considerar. Essas são situações desconfortáveis e complexas. Quando existe tempo para pensar, geralmente é possível encontrar soluções adequadas. Porém, quando não há tempo hábil para avaliar todas as variáveis, além de alinhados com os princípios, precisamos ter nossos valores bem claros, definidos e ordenados em prioridade na mente. Isso nos ajuda a tomar decisões difíceis de forma rápida, coerente, lógica, previsível e com menor impacto emocional.
Para tanto, com o conceito de valores em mente, faça uma lista de tudo o que você considera importante na sua vida. Não tenha pressa. Não economize papel. Seja o mais abrangente possível. Depois, reduza a relação para apenas cinco valores por meio da eliminação gradual, um por um, da lista. A cada corte, pergunte a você mesmo: "Agora, se eu tivesse que desistir de mais um dos valores desta lista, qual seria?".
Os cinco finalistas são seus valores principais. Repita o processo, utilizando a mesma pergunta agora para determinar a prioridade entre os cinco. Finalmente, imagine diversas situações nas quais eles podem ser aplicados e procure detalhadamente por incompatibilidades e quaisquer desalinhamentos com os princípios naturais.
Astronauta Marcos Pontes
Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes atualmente é Astronauta Profissional Especialista de Missão, formado pela NASA e pela Roscosmos, à disposição do Brasil, aguardando a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial. É Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Desempenho Pessoal e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do Ensino Profissionalizante, Embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de três livros: “Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira”, “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade” e “O Menino do Espaço. A história do Primeiro Astronauta Brasileiro”, todos publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.
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