BRASIL JÁ TEM TECNOLOGIA PARA RESFRIAR SATÉLITES

RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Dois experimentos conduzidos pelo astronauta Marcos Cesar Pontes durante sua estada na ISS (Estação Espacial Internacional) confirmaram a eficácia de uma nova tecnologia brasileira para refrigeração de satélites. Os dois grupos de pesquisa que criaram os aparatos de controle térmico apresentaram ontem, em seminário no Inpe (Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais), os resultados do teste feito em microgravidade. As estratégias de ambos funcionaram.
"Nós qualificamos nosso sistema para entrar no mercado", disse Edson Bazzo, engenheiro da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) que criou um dos aparatos contra superaquecimento de satélites. "Daqui para a frente o papel passa a ser de uma empresa que queira colocar o produto no mercado."
O outro experimento conduzido no espaço foi elaborado por Márcia Mantelli, também do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC. O sistema criado por ela tinha o objetivo de controlar a temperatura de peças eletrônicas localizadas, enquanto a tecnologia de Bazzo é voltada para o resfriamento do satélite inteiro.

Do tamanho do Brasil
O sucesso no teste dessas duas tecnologias foi um resultado há muito esperado pelos pesquisadores, e já é uma pequena contribuição no sentido de "nacionalizar" de fato o programa espacial do país.
"Nós começamos o nosso laboratório em 1990, para atender à Agência Espacial Brasileira [AEB]. Mas, hoje, mais de 90% do que a gente faz lá é para aplicação em indústria", diz Mantelli. Hoje, satélites brasileiros ainda usam equipamentos importados para controle de temperatura.
A pesquisadora acredita que, com a recente qualificação dessa tecnologia, será possível usar os sistemas de refrigeração da UFSC nos próximos satélites sino-brasileiros da série CBERS. "Nós até já gostaríamos de estar lá há mais tempo", diz. "Já tínhamos capacitação para isso, mas ainda não tínhamos provado."

Geladeira orbital
Quem nunca viu um sistema de refrigeração de satélite pode imaginar que uma geladeira voadora daria conta do recado, mas a tecnologia envolvida na verdade é muito mais complexa. O custo do envio de equipamentos ao espaço se mede em quilos: quanto mais peso, mais dinheiro se gasta para colocar uma parafernália em órbita.
Por isso, é essencial que qualquer sistema que se crie seja o mais leve possível. Além disso, a energia elétrica gerada pelos painéis solares de satélites é extremamente limitada. Os sistemas de controle térmico criados em Santa Catarina, porém, cumprem o requisito da leveza e funcionam de maneira passiva, ou seja, não requerem eletricidade. Toda a energia de que precisam vem do próprio calor que eles devem dissipar.
O sistema de Bazzo, o evaporador capilar, consiste em um circuito de ranhuras preenchidas com água, que absorve calor na extremidade que se quer resfriar e o irradia em outra.
O sistema de Mantelli, batizado de minitubos de calor, usa o mesmo princípio, mas sua função é mais distribuir e transportar calor. Em terra, sua tecnologia já rendeu um sistema para fornos de padaria.
Para aprovar seu projeto segundo as rigorosas regras de segurança da ISS, Mantelli teve de readaptá-lo a partir de uma versão anterior, que teve um triste destino. Um experimento que subiria em 2002 a bordo de um teste do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites) da AEB, acabou desperdiçado quando o foguete falhou.


Conheça o projeto da UFSC www.labsolar.ufsc.br/mis_centenario/missao.htm


Fonte: Folha de S.Paulo
Data: 22/11/2006