AMBIENTE ESPACIAL PODE AFETAR DNA, DIZ PESQUISA

 

Cientista revela resultado de experimento conduzido por astronauta brasileiro

Novo teste seria repetido anteontem em foguete que que acabou perdido no mar; pesquisador também teve trabalho frustrado em 2002

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo com a ressalva de que o seu último experimento a bordo do foguete VSB-30 perdeu-se em algum lugar do litoral maranhense na quinta-feira, o físico Heitor Evangelista, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), tem o que comemorar. Seu experimento anterior sobre efeito do ambiente espacial no DNA teve sucesso, e os resultados serão publicados em breve.
"O experimento feito na ISS [Estação Espacial Internacional, em inglês], na Missão Centenário, com o Marcos Pontes, foi um sucesso", disse Evangelista à Folha. "O que a gente queria agora era tentar repetir isso, para ver se o efeito observado seria o mesmo."
Mesmo sem essa réplica -a nova oportunidade será apenas em 2009, novamente na ISS- Evangelista vai publicar nas próximas semanas os resultados iniciais, que podem mudar o caminho das pesquisas que investigam a ação da falta de gravidade e da radiação cósmica sobre o DNA das bactérias.
"Antes, se achava que a microgravidade não fazia nenhuma diferença na eficiência do reparo do DNA [mecanismos naturais que podem evitar mutações e morte celular]. Mas nós vimos que, em alguns casos, ela pode fazer diferença sim. E até mudanças importantes", explica o pesquisador.
"Trocando em miúdos, a questão do reparo [de DNA] relacionada com o risco tem que ser revista", afirma o cientista.

Discussão em aberto
O salto científico do trabalho de Evangelista, que desafia até resultados obtidos por americanos e europeus, foi desenvolver um método de pesquisa novo, patenteando pela Uerj e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José dos Campos (SP).
"O método anterior, feito no exterior, era considerado como algo pronto, uma questão fechada, mas agora, com os nossos resultados, nós queremos abrir uma discussão", explica Evangelista, da Uerj.
O avanço do grupo brasileiro foi desenvolver um aparato que expôs as bactérias à radiação ao mesmo tempo em que estavam no espaço. Nos experimentos de americanos e europeus, feitos em ônibus espaciais, as amostras eram irradiadas ainda na Terra. Depois elas eram congeladas, levadas ao espaço, congeladas novamente e trazidas de volta para análise.
"Mas nós procuramos simular ao máximo o que ocorre lá [no espaço]", diz o cientista. "No nosso caso, mostramos que as duas ações são importantes. Pode existir uma sinergia entre microgravidade e radiação cósmica", explica.
As bactérias levadas por Pontes para a órbita da Terra no início do ano passado foram impactadas durante uma semana pela mesma radiação que recairia sobre elas durante um ano, se elas tivessem permanecido no planeta.

 


Fonte: Folha de S.Paulo
Data: 21/07/2007