ASTRONAUTA MARCOS PONTES CONCEDE ENTREVISTA AO PORTAL AMAZÔNIA
MANAUS – O astronauta Marcos Pontes estará em Manaus no dia 26 de setembro para ministrar a palestra motivacional "Conquiste seu espaço superando desafios". A palestra será às 20h, no Dulcila Ponta Negra.

Na palestra, o Primeiro Astronauta e Cosmonauta Brasileiro, vai falar sobre sua experiência de vida, das dificuldades, situações difíceis e sucessos. "Espero poder contribuir, principalmente para o público jovem, na maneira de como encarar os aspectos da vida e superar os obstáculos, tanto os naturais como os criados, nos seus caminhos", explica Marcos.

Confira a entrevista do Portal Amazônia com Marcos Pontes.

Você sempre quis ser um astronauta?
Marcos Pontes: Ser um astronauta é o sonho de toda criança, meu sonho inicial era ser piloto. Comecei a lutar por ele aos 14 anos, entrando no SENAI e trabalhando como eletricista aprendiz da RFFSA para poder pagar pelos meus estudos de técnico de eletrônica. Entrei na FAB, tornei-me piloto, mas sempre com uma vontade de voar mais alto, mais rápido...ir ao espaço, quem sabe! O caminho percorrido não foi fácil, e ainda tinha o fato de eu ter vindo de uma cidade do interior e de uma família pobre. Mas com muita luta; determinação; muito trabalho e estudo foi possível fazer alguma coisa de positivo para o Brasil no cenário internacional. Meu objetivo era ser útil ao meu país. Coloquei minha vida, literalmente, nisso. A missão que o País me determinou a cumprir em 1998, de levar a bandeira ao espaço pela primeira vez, eu persegui, praticamente sem nenhum apoio das instituições, por 8 anos, até completá-lo com sucesso em 2006. Hoje, ainda junto do Comando da Aeronáutica, do Programa Espacial, da Educação do País e do Meio Ambiente, tenho outros objetivos ainda maiores.

Quais são os conselhos que dariam aos estudantes que sonham em ser astronautas?
Marcos Pontes: O que eu diria é que ter uma formação acadêmica é essencial. Na parte psicológica, é necessária paciência e gostar de trabalho em equipe. Também é interessante ter cursos na área operacional, ser piloto, preferência mergulhador também. Uma coisa muito importante é amar o seu país, amar as pessoas que vivem nele e saber que tudo que você faz não é para um reconhecimento, mas sim para que você cumpra sua missão de acordo e se sinta satisfeito com isso, independente de qualquer coisa. Isso é o que mais importa: colocar a cabeça no travesseiro e pensar no futuro, pensar em coisas boas. Então eu acho que, basicamente é isso.

Qual a sua opinião sobre o papel do Brasil na exploração espacial?
Marcos Pontes: O Brasil precisa de maior constância nos projetos do programa espacial, em especial nas cooperações internacionais, visto que ninguém faz nada de realmente grande sozinho nessa área. Isso tem sido tentado pela AEB, pelo que observo, porém ainda não foram conseguidos os resultados estáveis que todos nós esperamos. A Missão Centenário foi um ponto positivo muito marcante na história do Programa Espacial Brasileiro. Infelizmente também tivemos eventos marcantes negativamente, como o acidente em Alcântara, onde perdi vários amigos. Esse tipo de acidente não é incomum em todos os programas mais desenvolvidos que o nosso. Mas sem dúvida é sempre uma coisa muito triste e deveria inspirar autoridades para a necessidade estratégica da área. Temos satélites construídos no Brasil e em conjunto com outros países. É um bom avanço para termos os sistemas próprios. Mas ainda temos um longo caminho pela frente.

Qual a sensação de ser o primeiro astronauta brasileiro?
Marcos Pontes: Missão cumprida. A sensação foi a melhor possível, a repercussão foi excelente em todos os sentidos que realmente interessam. Eu estava bem preparado, tanto fisica quanto tecnicamente, e assim eu pude ir, ao invés do meu backup, o cosmonauta russo Sergei Volkov, que iria realizar a Missão Centenário, caso eu tivesse qualquer problema de aproveitamento ou saúde. Felizmente, conseguimos representar o Brasil na Missão, fazer os experimentos da Agência Espacial, cumprir todos os objetivos colocados pela Agência Espacial Brasileira para sua missão, não só levando a bandeira do Brasil, mas também levando o coração de brasileiro, que eu acho que é extremamente importante. Foi talvez o evento internacional mais marcante deste programa desde o início da sua história e assim será utilizado como referência pelos jovens brasileiros que almejam e sonham com uma carreira de ciência e tecnologia. Eu fico muito feliz em ter participado disso.

Como foi sua rotina de treinamento?
Marcos Pontes: Durante o treinamento temos aulas práticas e teóricas de sistemas das espaçonaves, simuladores e outras atividades como vôos, geologia, astronomia, medicina, pára-quedismo, técnicas laboratoriais, oceanografia, biologia e outros conhecimentos, conforme as necessidades da missão. Além disso, inúmeros exames médicos! Isso se seguiu por 2 anos de curso inicialmente (1998-2000), depois por 5 anos e meio de treinamento avançado em Houston, e 6 meses em Moscou. Obviamente tudo isso não é só para realizar uma única missão, após a realização da missão, continuo em Houston, a disposição do Brasil, aguardando nova escalação para vôo espacial como astronauta brasileiro.

Pretende voltar ao espaço?
Marcos Pontes: Sem dúvida! Mas isso não depende só de mim. Sou um representante do Brasil, e é preciso que o país determine que eu seja escalado para o espaço novamente. Se a idade e a saúde permitirem, irei sim. No momento, o objetivo é dar continuidade ao programa espacial e auxiliar a educação do país, a ciência e a tecnologia nacionais. Quem sabe preparar outros astronautas também!

Qual o real motivo para você ter ido para reserva?
Marcos Pontes: Estou na função civil de astronauta (astronauta é função civil), representando o Brasil no exterior, desde 1998. Já são quase 10 anos, completamente fora do serviço ativo militar da Força Aérea. Após a Missão Centenário, o Comando da Aeronáutica sabiamente oficializou minha passagem do serviço ativo militar para a reserva, para as funções civis de astronauta, para que eu pudesse continuar meu trabalho eficientemente em prol do programa espacial e do país. Isso também foi feito pelo Exército Americano com os meus companheiros de missão, astronautas americanos que tinham o “background” militar: os Coronéis da reserva do Exército Americano William McArthur e Jeffrey Williams. A passagem para a reserva de astronautas oriundos da carreria militar é algo completamente normal e necessária para que assumamos nossas funções completamente na carreira civil de astronautas. Isso é feito em todos os países desenvolvidos que possuem astronautas e pretendem continuar utilizando-os para o programa espacial. Existe um momento na carreira que uma escolha tem de ser feita pela respectiva força armada: ter um militar nas fileiras ou um astronauta para o país, visto que as duas funções são incompatíveis a partir de um determinado ponto. No Brasil, infelizmente, a imprensa de qualidade inferior, sedenta por polêmicas que rendam mais vendas e lucros, e sem se preocupar em verificar os fatos, causou uma grande desinformação, que acredito que seja a razão dessa pergunta.

Foto: Globo
Por Sylvia Koeler
Fonte: Sylvia Koeler - Portal Amazônia

 

 

Fonte: Portal Amazônia
Data: 03/09/2007