Na
semana passada estive no Brasil. Visitei 4 cidades. Conversei
com muita gente. Escrevi muitas mensagens. Autógrafos,
fotos, sorrisos, abraços, pessoas amigas.
A viagem começou de modo peculiar. Cheguei na manhã
da sexta-feira no aeroporto de Guarulhos. Manhã bonita,
sensação boa de estar em casa. Desci do avião.
Passei pela conferência de passaportes. Antes de seguir
para a esteira de bagagens, parei um instante para ir ao banheiro.
Não deveria ter feito aquilo!
Pessoas passavam apressadas. Muitas delas. Rostos cansados da
viagem longa. Seguiam no ritual comum da chegada. Pensavam nos
encontros, na comida de casa, na dor nas costas, nos presentes
que faltaram. Seguiam para as bagagens. Eu também fui.
Ao redor da esteira, expectativa aglomerada. As malas desfilavam.
Grandes, pequenas, coloridas, laços vermelhos, fechos arrebentados.
Muitos olhos atentos acompanhavam o cortejo.
Com o tempo, uma a uma, as pessoas foram recolhendo seus pertences
e indo embora. Felizes reencontros.
Depois de uns vinte minutos, restaram poucos de nós. Compartilhávamos
olhos preocupados e frustrados.
Nossas malas não estavam ali. O que teria acontecido? “Por
quê? Logo a minha?”, pensávamos.
Convencidos do infortúnio presente, formamos fila no balcão
de reclamação. A atendente, simpática, tenta
justificar e motivar: “Deve ter havido um problema de etiqueta.
Não se preocupem, hoje ou amanhã elas estarão
aqui!”
Balançamos a cabeça desanimados, pensando nos desencontros,
nos banhos sem trocar de roupa, na dor de cabeça, nos presentes
que faltaram.
Na esteira ficaram algumas malas abandonadas. Entre elas, uma
idêntica a minha. Indicação clara de que alguém
poderia ter se enganado e saído, despreocupado, carregando
minha bagagem... difícil saber para onde!
Eu, por minha vez, sai dali com um papel, um código, um
número de telefone e uma promessa.
No saguão, encontrei meus amigos, já preocupados
com o atraso. Explicações, gozações,
coisas naturais. Seguimos de carro para o CTA (Comando–geral
de Tecnologia Aeroespacial da Aeronáutica) em São
José dos Campos. O primeiro compromisso era um encontro
com cerca de duzentos estudantes no MAB (Memorial Aeroespacial
Brasileiro). Chegamos ao Hotel de Trânsito do CTA com algum
tempo de folga. Suficiente para comprar um novo aparelho de barbear,
escova de dentes, etc.
A conversa com os estudantes foi emocionante. Ali, naquele ambiente
onde o passado e o futuro se misturam na idéia de “realizar
pelo Brasil”, foi gratificante ver a empolgação
dos alunos e de seus professores. No grupo, reencontrei meus jovens
companheiros de pesquisa dos dias de minha primeira missão
ao espaço: os integrantes da equipe responsável
pelo experimento educativo com os feijões. Eu e todos os
presentes pudemos ver claramente que os resultados daquela experiência
educativa, tão simples, terão magníficos
e incalculáveis frutos, multiplicados por corações
motivados, ainda por muitos e muitos anos. Fiquei feliz. “Eu
participei. Eu fiz a minha parte.”
A noite, ainda em São José dos Campos-SP, participei
de atividades comemorativas da ABCAer (Associação
Brasileira de Cultura Aeroespacial). “Resgatar a história,
preservar a cultura e disseminar o conhecimento aeroespacial”,
sem dúvida nenhuma, a ABCAer tem uma tarefa muito especial,
bonita e exemplar no contexto atual brasileiro. Precisamos de
mais iniciativas como esta. Não podemos deixar nossa história
ser escrita na areia da praia, privando as gerações
futuras do conhecimento e das razões de orgulho pelas suas
raízes brasileiras.
No dia seguinte, sábado, mais emoções. Fiz
uma palestra para centenas de alunos do ITA (Instituto Tecnológico
de Aeronáutica), escola de reconhecimento mundial, que
também tive o prazer de freqüentar. Enquanto mostrava
e comentava peculiaridades da carreira que abraçamos, pude
ver e sentir a vibração, a energia positiva, a garra
dos nossos futuros engenheiros. Boa sensação. Senti
confiança. Serão eles que estarão liderando
projetos no Brasil e exterior em alguns anos. Tenho certeza de
que terão muito sucesso...e podem contar comigo, como sempre.
Domingo, pela manhã, fomos de carro para Cerquilho-SP.
Participamos do encontro nacional de Rádio Amadores para
a entrega de prêmios e troféus do Concurso Brasileiro
de 144 MHz. Dia de sol, céu azul. Lindas paisagens desse
meu interior de São Paulo. Plantações, colinas
verdes, terra vermelha, terra branca. Saudades de Bauru!
No encontro, conversei durante 3 horas com colegas rádio
amadores (sou o PY0AEB) e professores. Duas categorias com grande
importância na “disseminação e motivação
do conhecimento”. Lembrei dos dias a bordo da Estação
Espacial, dos momentos em que tive a satisfação
de poder conversar com meus compatriotas através do rádio.
Difícil de explicar, mas só quem esteve em situação
semelhante pode imaginar completamente o bem que faz poder falar,
mesmo que por alguns minutos, no seu próprio idioma. Um
detalhe que poucos sabem: o rádio amador é oficialmente
considerado uma alternativa de comunicação no caso
de falha dos sistemas primários de comunicação
da EEI com o solo.
Regressei a São Paulo após o evento. Coloquei minha
calça jeans, a escolha não foi difícil pois
era a única opção, e seguimos para Maceió-AL.
Chegamos de madrugada.
Ponta Verde, Ponta Negra e tantas outras de magnífica beleza!
Praias lindas, coqueiros, mar azul, povo maravilhoso. Conferi
sua beleza novamente pela janela do hotel e do carro, enquanto
seguíamos para as atividades junto ao encontro do CONFEA
(Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia). A finalidade
do evento era o estudo de propostas para o desenvolvimento do
Brasil. Pela manhã, falaram os “presidenciáveis”.
A tarde, na minha oportunidade de falar, enfatizei o tema da educação
e a importância fundamental que tem, em minha opinião,
para o desenvolvimento do País.
Após falar durante quase duas horas sobre o assunto, me
encontrei com o público: conversas, autógrafos,
sorrisos e muitas fotos no estande montado pela Agência
Espacial Brasileira para a exposição. É muito
bom ver o interesse pelo Programa Espacial, sentir o carinho e
a energia da nossa gente. Isso nos motiva e nos faz seguir, apesar
de tudo, nessa luta diária na busca de um futuro melhor
para o país, seja na área espacial, seja na educação,
seja na busca da maior compreensão entre as pessoas. Ao
País, o que importa mesmo, é que façamos
a nossa parte...todos nós!
Na terça, encontrei finalmente com minha mala no aeroporto
de Guarulhos e voltei para Houston. Ela, “a mala”
também chegou naquele dia!



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