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Enquanto
a NASA se prepara para mais um lançamento da espaçonave
Atlantis, no final do mês de abril, levando a missão
STS-117 (que inclui 3 amigos da minha turma de astronautas),
iniciamos aqui no nosso blog uma série especial sobre
as características e operação dessa máquina
magnífica: o ônibus espacial.
Inicialmente
destacamos uma questão de nomenclatura. Em português
não fazemos muita diferença de nome entre o
sistema completo e o veículo orbital. Basicamente chamamos
os dois casos de “ônibus espacial”. Porém,
em inglês, o veículo orbital, aquele que pousa
no final da missão, é chamado de “orbiter”
e o sistema completo, como vemos na decolagem, é chamado
de “Space Shuttle” (ônibus espacial). O
sistema completo é composto do veículo orbital
(“Orbiter”), dos dois foguetes de propelente sólido
(“Solid Rocket Boosters - SRB”) e do tanque externo
(“External Tank”). |
O
ônibus espacial foi a primeira espaçonave tripulada
reutilizável do mundo. Ele pode levar, ao mesmo tempo,
seres humanos e cargas úteis, como satélites
e outros equipamentos, para o espaço e/ou trazê-los
de volta à Terra.
Atualmente
existem 3 veículos orbitais em atividade: o Discovery,
o Atlantis e o Endeavour. Apesar de terem sido projetados
para realizarem 100 missões e apenas terem realizado
menos de 25, eles deverão sair de operação
aproximadamente em 2010, dando lugar a uma nova geração
de veículos.
Ao
todo foram construídos 6 veículos. O Enterprise
foi usado apenas durante a fase de desenvolvimento do veículo,
para ensaios em vôo. O Columbia, recebido pela NASA
em Março de 1979, foi perdido durante a reentrada da
missão STS-107 em Fevereiro de 2003. O Challenger,
recebido em Julho de 1982, explodiu durante a decolagem da
missão STS-51L em Janeiro de 1986. O Discovery foi
recebido em Novembro de 1983 e o Atlantis em Abril de 1985.
Em Maio de 1991 o Endeavour entrou em operação
para repor o Challenger.
O
Centro Espacial de Kennedy, na Flórida (“Kennedy
Space Center - KSC”) é o centro responsável
pela guarda e manutenção dos veículos
orbitais.
Todas
as decolagens do “Space Shuttle” são feitas
de uma das duas plataformas de lançamento daquele centro.
Aqui existe outra questão de confusão de nomes.
Muita gente acredita que os ônibus espaciais são
lançados de “Cabo Canaveral”. Na verdade,
eles são lançados de Kennedy Space Center (KSC).
A Base Aérea de Cabo Canaveral, fica ao lado de KSC,
era utilizada para o lançamento das espaçonaves
tripuladas americanas antes da era dos ônibus espaciais,
durante a fase mais intensa da corrida espacial. As famosas
Saturno V, que levaram as missões Apollo para a Lua,
partiram de lá. Assim, o nome “Cabo Canaveral”
ficou conhecido mundialmente, causando a confusão atual
de nome e localização.
Os
pousos são normalmente realizados na pista de KSC.
Contudo, caso a meteorologia ou outras condições
adversas exigirem, o veículo orbital pode pousar na
Califórnia, no deserto de Mojave, ou em White Sands,
no Novo México.
A
concepção do veículo, diferente das espaçonaves
russas, foi desenvolvida para permitir o transporte simultâneo
de pessoas e carga. Isso apresenta vantagens logísticas,
mas maiores dificuldades de engenharia e operação,
visto o aumento da complexidade e redundância exigida
para os sistemas de vôos tripulados.
O
veículo decola como um foguete utilizando todo o empuxo
dos dois SRBs e dos três motores principais. Os SRBs
“queimam” por aproximadamente 2 minutos. Após
esse período, eles são ejetados, caem no mar
e são resgatados por navios para serem reutilizados
em outras missões. Nos próximos 6 minutos, o
veículo continua sua subida para a altitude inicial
de órbita, utilizando apenas os três motores
principais que consomem, juntos, cerca de uma piscina olímpica
de oxigênio e hidrogênio líquidos a cada
30 segundos. O oxigênio e o hidrogênio são
levados no Tanque Externo (laranja). Depois de vazio, o Tanque
externo é ejetado e destruído pela alta temperatura
na reentrada na atmosfera.
Algumas
das características do ônibus espacial:
Comprimento
total do sistema completo = 56 m
Comprimento total do veículo orbital = 37 m
Altura do veículo orbital na pista de pouso = 17 m
Envergadura do veículo orbital = 24 m
Peso total de decolagem (típico) do sistema completo
= 2 x 106 kg
Empuxo de cada SRB = 3.3 x 106 lb
Número de SRBs = 2
Empuxo médio de cada motor principal = 0.4 x 106 lb
Número de motores principais = 3
Altitude de órbita = de 180 km até 640 km
Velocidade de órbita = 28000 km/h
Tripulação típica = de 5 a 7 astronautas
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |